É normal viver com ambliopia? Conheça as repercussões visuais já evidenciadas.

23/05/2022 2 Por Maria Amélia M. Franco
É normal viver com ambliopia? Conheça as repercussões visuais já evidenciadas.

Cada dia conheço mais adultos que revelam ter ambliopia e compartilham algumas de suas principais frustrações. A falta de desenvoltura para as atividades corriqueiras é bem comum. Contudo, as dificuldades enfrentadas dependem do tipo de ambliopia e de como a visão se desenvolveu. 

Há quem apresente dificuldade para ler ou manter a atenção, o que favorece a aprendizagem. Ou para fazer esportes, maquiar-se, dirigir e até mesmo para caminhar entre a multidão. 

Por exemplo, amblíopes fazem uma leitura mais vagarosa e perdem facilmente o foco. Machucam o braço no batente da porta, miram na bola, mas rebatem o vento. Se desequilibram facilmente, caminham olhando para o chão e passam entre pessoas aglomeradas pedindo desculpas pelos esbarrões. 

“Até parece que é cego!”, “Sua mão de pega-pum”, “Como você é atrapalhado”, “Não seria melhor eu manobrar para você?”, “Filme 3D é muito legal, como você não gosta?”, “Dava para ter atravessado a rua três vezes, o carro estava bem longe”...
Comentários ouvidos por pessoas amblíopes.

Na ambliopia, há muito mais do que enxergar sem nitidez

As repercussões visuais da ambliopia não se restringem ao olho de pior visão. Ou seja, vai além da redução da acuidade visual – não enxergar 20/20, 100% ou com nitidez, como dizem.

Mas, acalme-se! Geralmente não são limitantes, embora “atrapalhem”. Cada caso é único, depende da causa e da idade que gerou a ambliopia. Por isso, uma boa avaliação oftalmológica é essencial para conhecer como estão as funções visuais e como elas impactam no comportamento do indivíduo.

A ambliopia é um problema de organização cerebral, com maior impacto no córtex cerebral quando associada ao estrabismo. A literatura científica é vasta e já relata as diversas alterações de processamento visual observadas em pessoas amblíopes (ainda que grande parte esteja em inglês). Então, o que pode estar acontecendo?

Principais repercussões visuais:

redução da acuidade visual (não enxerga com nitidez);

instabilidade e menor precisão durante a fixação e seguimento dos olhos (leitura ruim, déficits de atenção);

acomodação visual insuficiente, ao ajustar o foco longe-perto (visão borrada, oscilando, cópia mais lenta);

menor sensibilidade de contraste (dificuldades de discriminação em ambientes com iluminação reduzida, ao entardecer e à noite; baixa definição de contornos de objetos e figuras);

fenômeno de crowding (embaralhamento em impressos com fontes e linhas mais condensadas ou com poluição visual; pior performance em ambientes aglomerados como no trânsito, em feiras e corredores);

acuidade de Vernier (percepção de alinhamento e posição relativa);

distorções espaciais, de percepção de movimento e de processamento temporal (falsa ideia de distâncias e da velocidade de uma bola, veículos, pessoas);

ausência de visão estereoscópica (desconforto em filmes 3D).

Bem, se você está lendo esta publicação, provavelmente já tem uma ideia do que seja ambliopia. Recomendo ver também esta entrevista que aborda conceitos, repercussões visuais e reabilitação. A partir dela, consegui ir além da teoria, fiz cursos e aprendi como atuar para reabilitar as distintas disfunções que se apresentam. [ link na seta ]

7 motivos para levar a sério a reabilitação da ambliopia

Acho válido argumentar e incentivar! O processo terapêutico na ambliopia nem sempre é rápido e fácil de aderir… Quem sabe esses motivos ajudam a seguir em frente?

1. Ser bom nos esportes

Para ser habilidoso nas atividades esportivas visão, equilíbrio, consciência corporal e coordenação motora precisam ser bem integradas. Porém, a ambliopia reduz a noção de profundidade, lateralidade e distância porque os olhos não trabalham bem juntos e, com isso, a criança tende a ser mais descoordenada. É comum frustrar-se nas aulas de educação física e por nem sempre estar entre os escolhidos para compor o time. Há aspectos emocionais e sociais que podem estar relacionados a isso!

2. Ler melhor

Crianças e adultos com ambliopia leem mais devagar. A atenção também pode estar prejudicada, por diferentes perversões visuais que estão por trás dessa condição: qualidade de fixação, foco perto e longe e fenômeno de embaralhamento.

3. Ser menos estabanado e mais hábil

Nas mais diversas funções, é natural que pessoas com visão monocular esbarrem nas coisas, não percebam a mudança de nível em um degrau, tenham mais dificuldade para colocar um fio na agulha e em tantas outras coisas que requerem apurada percepção de profundidade e sensibilidade ao contraste.

4. Assistir aos filmes 3D do momento

Para ver com conforto a tecnologia 3D é preciso ter uma boa visão estereoscópica, que não é o caso de quem enxerga bem só com um olho.

5. Poder escolher a carreira que quiser

Dependendo do comprometimento da visão, a pessoa amblíope pode ser impedida, ter dificuldades em atuar, ou de se destacar em várias profissões. Como atleta, cirurgião, arquiteto, motorista profissional, piloto, em nanoengenharia, nas forças armadas, etc. A visão binocular é essencial em diversas ocupações, possivelmente, nas que ainda serão criadas.

6. Dirigir bem quando chegar a hora

Da mesma forma que é mais difícil ter destreza nos esportes sem uma boa visão binocular, é mais difícil dirigir sem barbeiragens…

7. Ver o mundo em três dimensões

Ver em 3D de fato! A maravilha da visão binocular, uma condição essencial para a evolução humana.

Enfim, ter ambliopia não é normal. Mas, isoladamente, não o impedirá de ter uma vida bem-sucedida. Ainda que seja mais estabanado, menos hábil nos esportes e na direção, e apresente dificuldades aqui ou ali.

Contudo, compreender isso e acolher com autoconfiança poderá reduzir as dificuldades sociais e frustrações que possa causar. O maior zelo é pelo risco de traumas, ou doenças oculares relacionadas ao envelhecimento. Que podem acometer o olho de melhor visão e reduzir a qualidade de vida em idades mais avançadas.

Portanto, procure um oftalmologista que realize uma avaliação completa da visão. Os oftalmopediatras são minha indicação inclusive para adultos. Optometristas, ortoptistas e outros profissionais que atuam com a reabilitação visual precisam considerar os dados clínicos de acuidade, oculomotricidade e processamento visual para avaliar suas técnicas e a evolução dos pacientes de forma global. Enxergar melhor é a ponta do iceberg.

 

PS. Comente suas experiências, que outros motivos lhe trouxeram até este post?

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