Deficiência visual nas escolas: a lei garante a matrícula, não a inclusão

29/05/2018 1 Por Maria Amélia M. Franco
Deficiência visual nas escolas: a lei garante a matrícula, não a inclusão

Você sabia que a matrícula da criança cega ou com baixa visão na rede regular de ensino não é necessariamente um passaporte para sua inclusão na escola?

Para falar com propriedade sobre esse assunto tive a grata oportunidade de conversar com as professoras doutoras Maria Rita Campello e Maria da Glória Almeida, do Instituto Benjamin Constant. O IBC é referência nacional em deficiência visual, capacitando profissionais e assessorando instituições em todo o Brasil, inclusive através da distribuição gratuita de materiais didáticos e paradidáticos para a educação (depois explicarei como as escolas podem adquiri-los).

Embora a pauta seja sobre inclusão, não falaremos de lei, especificamente sobre recursos pedagógicos e tecnologia assistiva, ou sobre práticas de ensino. Já antecipo que o que está em questão é a reflexão sobre o compromisso com a alfabetização e o letramento a partir de um ensino de qualidade para cada um. Não para todos.

Mas não desista da leitura, porque isso tem tudo a ver!

Ingredientes para a inclusão educacional

Já pensou por que os pais, mesmo sabendo de seus direitos, muitas vezes não recorrem à justiça quando uma escola manifesta não ter recursos adequados ou não se prontifica a atender um aluno com deficiência visual?

A professora Maria Rita traz à tona essa questão e responde: “porque a criança precisa ser de fato acolhida e empoderada para ser alfabetizada. Portanto, ainda que na rede pública de ensino a criança seja obrigatoriamente matriculada, isso não quer dizer que ela será incluída”.

Concordo que essa é uma premissa mesmo para o aluno sem deficiências aparentes, mas com particularidades próprias do seu desenvolvimento e do seu jeito de aprender.

Então, vamos pensar juntos em alguns aspectos-chaves para o letramento do aluno cego ou com baixa visão, que são base para qualquer prática curricular.

  • Observação

Antes de pensar em como adaptar materiais, como modificar os ambientes da escola ou como socializar o aluno com baixa visão, avalie suas reais necessidades. Você que já acompanhou as nossas publicações sobre baixa visão sabe que as patologias impactam de formas bem distintas o que e como a pessoa vê. Cada uma requer estratégias e ferramentas educacionais específicas.
“Às vezes você não se dá conta que uma criança não está enxergando bem e acaba a rotulando como preguiçosa, dispersa. Ou simplesmente aceita as suas limitações. É preciso antes de tudo observar se estão sendo oferecidas todas as adaptações e condições adequadas para que ela possa participar de fato das aulas”, comenta Maria da Glória, especialista em alfabetização de crianças com deficiências visuais.

  • Olhar educacional

Ter um olhar educacional é ensinar pensando em como o estudante poderá assimilar melhor, participar e aprender. “Enquanto os professores só conseguirem perceber as deficiências e não observarem as potencialidades dos alunos, a aprendizagem será comprometida”, alerta a professora.

  • Responsabilidade compartilhada

Por vezes a criança acaba sendo atendida em suas necessidades e concretizando o aprendizado apenas no contraturno, pelo professor do atendimento educacional especializado, em tempo inferior ao de sala de aula. Ou seja, acaba sendo mero espectador no período regular e isso gera uma defasagem porque ela não tem a mesma oportunidade que seus colegas e não está aprendendo com seus pares na mesma hora.
Por isso, sem a interação entre o professor regente e o professor especializado, e o compromisso mútulo com a aprendizagem, não há inclusão. Isso se agrava ainda mais se o atendimento especializado acontece em outra escola.
“Os professores da sala regular não se consideram professores daquele aluno, isso traz um descompasso. Eles entendem que estão fazendo o papel de socialização da criança. Mas não estamos falando de socialização e sim de escolaridade, de qualidade de ensino. Perceber simplesmente a socialização como um modelo de inclusão nas escolas é um erro. Não estamos falando de inclusão social, mas de inclusão educacional”, destaca Maria Rita, professora do ensino básico, técnico e tecnológico do IBC.

Reflexões para evitar um caminho de exclusão

Você acredita que ainda há muito preconceito, muita desinformação e barreiras atitudinais que dificultam a inclusão escolar?

Mesmo que seja possível perceber que isso está mudando e creia-se que aconteça apenas fora do ambiente familiar, cabe refletir sobre o que as professoras do IBC dizem: “a superproteção e rejeição são primas irmãs. Quando você superprotege uma criança, você rejeita a possibilidade de que ela é capaz. Você não acredita na sua capacidade”.

Para Maria da Glória, a exclusão é latente na sociedade, que só consegue ver e lidar com o ‘homem padrão’. “Então, inclusão não se faz por força de lei, é um movimento interno, humano”, completa.

Portanto, é essencial que o professor queira realmente incluir e busque capacitar-se para isso. Nesse sentido, é preciso avaliar o papel do mediador nas salas de aula, para que sua presença não seja um caminho de exclusão.

“Seria bastante importante adquirir conhecimento voltado ao atendimento de crianças com deficiência visual, especialmente no que tange ao domínio do Braille, do Sorobã e de tecnologias assistivas”, pondera Maria Rita. Embora isso nem sempre seja viável, em muitos casos bom senso e visão pedagógica podem suprir essa lacuna. E são ingredientes acessíveis, para serem usados em qualquer tempo.

SERVIÇO

Material didático adaptado
Instituições de ensino da rede pública, bibliotecas públicas e organizações sem fins lucrativos que atendam pessoas com deficiência visual podem solicitar ao IBC o envio gratuito de materiais didáticos ampliados, grafotáteis (reproduzidos em alto relevo) e celas Braille tridimensionais. No site, o IBC disponibiliza a relação dos materiais, um formulário de solicitação e os contatos para informações. Acesse neste link!

Cursos
O IBC oferece ao longo do ano diversos cursos e oficinas para capacitação no atendimento de pessoas com deficiência visual e estão abertos ao atendimento de grupos em sua localidade, mediante avaliação prévia. Saiba mais neste link!

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