Aluno com baixa visão: lista completa de adaptações para inclusão em sala de aula

14/02/2018 8 Por Maria Amélia M. Franco
Aluno com baixa visão: lista completa de adaptações para inclusão em sala de aula

Você sabia que o aluno com baixa visão pode participar na sala de aula em condição de igualdade de oportunidade em relação aos demais colegas? Isso é inclusão e ela é possível.

Primeiro, é importante compreender a diferença entre integração e inclusão. São conceitos bem diferentes. A doutora em Psicologia, Suely Franca, explica que integrar é colocar junto e colocar junto não quer dizer fazer parte.

Ou seja, a criança precisa ser atuante no processo de aprendizagem e ser produtiva. Assim, o aluno com baixa visão deve ter acesso a todos os recursos que proporcionem a ele condições de aprender usando da melhor forma a visão que lhe resta (ou o seu resíduo visual).

Mas que recursos são esses? Hoje vou falar apenas de alguns: os auxílios não ópticos, que são adaptações nos materiais didáticos e no ambiente da sala de aula.

Entender as dificuldades ou potencializar o aprendizado?

É preciso mais que buscar apenas entender as dificuldades do educando. É preciso vislumbrar possibilidades de potencializar o uso da visão e dos demais sentidos para ele aprender.

Portanto, é natural que o aluno com baixa visão apresente velocidade de leitura e habilidade para copiar reduzidas. Porém, ao demonstrar falta de interesse e constante distração ele está revelando que o plano de aula, o ambiente e/ou a dinâmica do professor não estão adequados às suas necessidades.

Eliana Cunha, ortoptista especialista em baixa visão e psicologia da educação, explica que a qualidade da percepção visual depende da combinação de diversos fatores como o tamanho, o contraste, a cor e a iluminação.

Ela reponde pela área de educação inclusiva da Fundação Dorina e apresenta vídeo-aulas no portal Trocando Saberes, um dos projetos da fundação. Os vídeos explicam o que o professor deve observar e fazer para atender o estudante com deficiência visual. Confira a seguir os principais destaques no que tange à inclusão do aluno com baixa visão.

5 itens para levar em conta na hora de incluir o aluno com baixa visão

dicas para melhorar didática no atendimento de alunos com baixa visão

ILUMINAÇÃO

Qual a qualidade e a quantidade de luz disponível no ambiente? O cuidado para que a iluminação proporcione mais eficiência e conforto visual faz toda a diferença. O professor, então, deve:

  • Observar se os ambientes em sala de aula, escadas, entradas e corredores estão iluminados e se a luz é bem distribuída.
  • Posicionar o aluno de forma que a claridade não incida diretamente sobre os seus olhos, cause brilho ou gere sombras que atrapalhem sua leitura e escrita.
  • Evitar luz lateral, luz frontal incidindo nos olhos, luz incidindo na superfície que se olha, luz de lâmpadas que geram oscilações como nas fluorescentes.
  • Notar se há reflexos na lousa, na tela do computador ou no material de leitura e escrita. Veja se inclinando a tela ou usando plano inclinado melhora.  
  • Evitar superfícies muito polidas ou brilhantes, que ofuscam facilmente com a incidência da luz. Ou seja, dar preferência ao quadro negro ao branco, e a materiais didáticos em papel fosco àquele utilizado em revistas.

A cientista social e especialista em educação especial, Gloria Romagnolli, orienta também que o professor sente na carteira do aluno e converse com ele se é necessária alguma modificação no ambiente.
Ela indica usar uma cortina ou um anteparo na janela para controlar a entrada de luz e o reflexo no quadro. Ou o uso de uma luminária ajustável e portátil para o aluno. O docente deve considerar até mesmo inverter a mesa, sentando o aluno com as costas para a janela.
Outro recurso que ela destaca para controlar a reflexão da luz é o tiposcópio. É como uma régua vazada, que pode ser feita em papel cartão preto, com uma abertura retangular com cerca 19 cm de comprimento por 1 cm de altura.
Ainda, usar viseiras ou bonés pode ajudar a bloquear a luz que vem de cima se há quadros de fotofobia.

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CONTRASTE

O aumento do contraste favorece a percepção visual. O mais comum é o contraste preto no branco, mas outras variações em alto contraste podem ser testadas para ilustrar gráficos cartazes, etc.

Lousa

  • Nas lousas brancas escrever com canetas pretas, já nas lousas escuras, optar pelo giz branco.
  • Verificar se está bem limpa. Escrever sobre a lousa mal apagada prejudica o contraste.
  • Sublinhar o texto com outra cor para destacar palavras ou frases.

 

Leitura e escrita

  • Orientar a família a comprar cadernos com pautas bem escuras e até mesmo reforçar as pautas com caneta.
  • Avaliar se é o caso de aumentar o espaçamento das pautas (linha dupla).
  • Pensar na preferência da pauta em uma folha no formato paisagem para escrever mais palavras em uma linha.
  • Recomendar o uso de caneta esferográfica ou de ponta porosa preta.
  • Bem como de lápis 4B ou 6B, que têm o grafite mais escuro, e de borrachas adequadas, que não deixem borrões.
  • Desenvolver material com fontes negritadas.
  • Testar o uso de acetato amarelo sobre as páginas de leitura. Ele reduz a luz emitida e aumenta o contrate.

 

Cópias

  • Entregar ao aluno com baixa visão as primeiras cópias xerocadas ou feitas em mimeógrafos, pois elas têm mais contraste. E verificar se, mesmo assim, é preciso reforçar os traços.

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CORES

A percepção de cores varia caso a caso. Em geral, as cores mais fortes são percebidas com mais facilidade. Contudo essa não é a realidade da diagramação e das ilustrações dos livros didáticos, que usam tons muito claros para o aluno com baixa visão. Por isso:

  • Contornar as imagens de mapas, figuras e formas geométricas.
  • Trazer recursos alternativos que destaquem em relevo os detalhes que não podem ser percebidos através das cores.

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TAMANHO DAS FONTES E DAS IMAGENS

Há duas formas de ampliação para o aluno com baixa visão e elas podem ser usadas ao mesmo tempo: a sua aproximação ao que se quer ver e o aumento utilizando recursos gráficos ou ópticos. Cabe ao professor:

Posição

  • Encontrar com a criança a distância ideal da lousa.
  • Deixá-la aproximar o material de leitura para perto dos olhos. Isso não prejudica a visão. Para isso, usar uma prancha inclinada e verificar o melhor ajuste de posicionamento e postura.
  • Permitir que ela movimente sua cabeça buscando a posição que mais favorece o uso do seu campo de visão.

tecnologia assistiva para leitura de aluno com baixa visão

Tipo e tamanho da letra/imagens

  • Usar fontes sem serifa e que não sejam condensadas. As mais indicadas são ARIAL e VERDANA.
  • Optar pela letra bastão (maiúscula). É mais difícil para o aluno com baixa visão a leitura em letra cursiva.
  • Apresentar o texto com fontes gradativas de aumento para descobrir o tamanho ideal para o aluno. E adotar o tamanho 24 em provas e materiais de uso coletivo, pois contempla a maioria das pessoas com baixa visão.
  • Escrever na lousa com letra maior e manter uma boa organização do texto, com bom espaçamento entre palavras e linhas.
  • Reduzir as imagens se a deficiência visual causar encolhimento do campo visual periférico.
  • Recorrer ao computador para adaptar o tamanho das imagens e das fontes, porque garante a uniformidade dos caracteres e dos espaçamentos, sem reduzir o contraste, como acontece com o uso de fotocopiadora (xerox).

Se houver disponibilidade de recursos ópticos, como lupas para leitura de perto e telescópios para a leitura na lousa, pensar as adaptações já considerando o seu uso.

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CORES

O professor pode ainda:

  • Encorajar a criança a conhecer o espaço da sala de aula, reconhecer a posição dos móveis e onde estão dispostos os materiais, murais e qualquer recurso de acesso dos estudantes. 
  • Organizar a informação no quadro ou em folhas de exercícios. O excesso de informação e o conteúdo mal distribuído causam poluição visual.
  • Entregar antecipadamente impresso (ampliado e em contraste se necessário) ou em formato digital o que será escrito na lousa e apresentado em sala, bem como conteúdos matemáticos e gráficos complexos que serão explicados. E, ainda, ler em voz alta o que está sendo escrito.
  • Proporcionar um tempo extra para realizar as atividades e provas, e permitir a conclusão em casa ou no contraturno da escola dos exercícios dados em sala.
  • Pedir para que um colega copie as atividades passadas em classe com carbono. Assim o aluno com baixa visão pode fazer as tarefas e estudar mais facilmente em casa.
  • Na verdade, hoje em dia pode-se autorizar ao aluno gravar as aulas. Sempre o professor introduzindo o que vai apresentar, a que disciplina, tema, página e atividade a qual se refere. É importante situar o aluno que ouvirá as gravações para estudar. Isso beneficia a todos! (Nesse sentido as aulas online facilitaram e a vantagem é que com essa experiência, as escolas tenham menos receio em ter suas aulas gravadas a qualquer tempo).
    Além disso, é importante organizar os arquivos de áudio e vídeo por disciplinas, em blocos de conteúdos relacionados ao material didático, e em pastas classificadas e fáceis de localizar no computador ou tablet.
  • Descrever as ilustrações nos livros didáticos e livros de história, gráficos, mapas, vídeos, fotografias etc. (audiodescrição).
  • Sempre que possível, optar por gravuras simples, com poucos detalhes, contrastes intensos, cores vivas e contornos bem definidos.
  • Expressar-se verbalmente com o estudante, pois ele pode não distinguir suas feições e gestos.
  • Dirigir-se sempre a ele pelo nome e evite advérbios de lugar, como “aqui”, “ali”…
  • Promover uma aula dinâmica, que intercale cópia do quadro, leitura, ditado, atividades individuais e em grupo, reduzindo a fadiga visual.

Não é complexo, mas é um trabalho sob medida, pois o que uma criança com visão subnormal consegue ver é muito variável. Por isso, convido você a entender mais no link desta publicação em que explico de tudo um pouco sobre baixa visão.

Ah… e se você tem outras dicas para incluir aqui nessa relação de adaptações, compartilhe nos comentários!

*** Esta publicação é voltada especialmente para o atendimento de crianças com algum déficit visual ou baixa visão, sem outros comprometimentos neurológicos associados. ***

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